segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Setembro por aquelas bandas...


O vento sopra lá fora, o mastro dá sinal assobiando como que a cantar em sintonia com os do lado, as gaivotas piam, de alegria, suponho, e voam no alto sem bater as asas, o chio do mar abana as embarcações que teimam em ficar amarradas ao cais, quando existe tanto mar até onde a vista se cansa de ver...


O vento vem quente e entra na cabine sem pedir permissão, toca de leve no corpo sem arrefecer ou aquecer... limita-se a tocar, como que a dizer que lá está, e passa por todas as frechas que encontra à procura de uma saída.


No poço sinto a furia contida que ganha coragem a descer as montanhas, trazendo com ele o pó da terra do alto.


Caminhar na marina a esta hora em que o relógio aponta um angulo recto, é quase sobrenatural, é mágico... já lá não está nada nem ninguem, já todos abandonaram a amante de fim de semana e voltaram à vida como que à procura de algo, até o sol já se foi, dando lugar a uma lua que nasce tímida por detrás da serra, mas que se advinha gorda e bem cheia, pois a maré já mo disse... vejo cabelo e mais cabelo à frente dos meus olhos... é este o reduto que leva à realidade, é agora a hora do aprumo, barba aparda, cabelo arranjado sem as farripas de cabelo amarelo queimado pelo intenso sol e calor das ultimas semanas de mar.. é o meu voltar, é o devir que já chegou e vai abrir devagarinho as portas de mais uma cartola cheia de surpresas...


A saída é custosa pelas bagagens que teimam em sair e não entrar, e o polar torna-se um exagero, fazendo correr uma gota de suor salgado em direcção ao mar, e outra, e mais outra, que vão marcando o curto caminho até à porta do inicio da realidade...


Segue-se ainda em modo de fim-de-semana-que -quase -é-fim-de-férias-com -alguma-frustração-por-esta-ser-uma-vida-tão-repetitiva-e-curta, em direcção à vila. As havaianas nos pés lembram que a praia está já vazia e que o caminho a descer em breve trará água a rojos onde os pequenos grãos de areia transportados nos pés dos veraneantes voltarão ao mar... azar dos que ficaram nos carros ou nos tapetes de casa... porque sorte tem tudo aquilo que volta ao mar...mesmo o que de lá veio... agora mesmo em termos cósmicos ou agora mesmo como eu que deambulo com destino, em direcção à vila...


A velocidade da viagem faz-me supor que não vou a pé... e de facto não vou... vou a voar, encantado, com o que revejo... uma vila meia cheia, uma maré meia vazia, um leve cheiro a maresia, que faz advinhar o vento quente do leste... talvez seja hoje o dia de mudar o ditado e acreditar num bom casamento... acreditar que a temperatura subiu por amor e não por factores que a terra há milhões de anos que conhece...


Os sorrisos nas caras contam como foi o dia, e espelham o momento, como que a parar o tempo por segundos que sejam... não oiço nada, ouso gargalhar e aproveitar o eco do meu interior tão cheio de comunhão com a natureza...porque sorte tem tudo aquilo que volta ao mar... e como que a retribuir, sorrio em voz alta...


Destinos dos outros levam-me por um caminho antigo e conhecido, mas há tanto tempo não percorrido, o sorriso torna-se mais forte e uma lágrima de suor cai novamente, acusando agora o exagero das calças... sorte tem tambem quem por Setembro fora ainda de calções pode andar... sem medo de as pernas mostrar...


Mas Setembro dura...e sorte tem tudo aquilo que volta ao mar...

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